Bate-papo com Marco Gomes e Luis Bernardes da Boo-Box
Flipboard Brasil Blog / Fevereiro 3, 2015
Com mais da metade da população brasileira já conectada à internet, o mercado digital está em plena expansão. Mas ainda existem muitas dúvidas sobre como usar as novas tecnologias e ferramentas do digital. É o que pensam Marco Gomes e Luis Bernardes, respectivamente fundador e CEO da Boo-Box, empresa especializada em mídias digitais e reconhecida pela FastCompany e Forbes como uma das cinco empresas mais inovadoras do mundo.
Marco e Luis visitaram o escritório do Flipboard no Vale do Silício, e aproveitamos para conversar sobre tecnologia, publicidade e as oportunidades e os desafios do digital. Confira, a seguir, trechos do nosso bate-papo.
Como surgiu a ideia para criar a Boo-Box? E por que o negócio da Boo-Box é inovador?
MG: Surgiu a partir de um momento de mercado, em 2006 / 2007, quando eu percebi que as pessoas estavam cada vez mais consumindo conteúdos de blogs e mídias independentes, mas que a publicidade na internet ainda estava concentrada nos grandes portais brasileiros. E eu percebi que esta situação iria se equilibrar. Ou seja, a publicidade migraria cada vez mais para o online e, migrando para o online, ela não iria permanecer nos portais, mas sim, viria para a mídia independente. Então, eu resolvi criar uma empresa que faz publicidade em blogs, para aproveitar esta migração de verba do offline para o online e, posteriormente, dos portais para os blogs. Eu fundei a empresa em 2007 e, em 2012, o Luis se juntou a nós como presidente.
A Boo-Box é inovadora por dois motivos. O primeiro é que nós fazemos propaganda em formatos especiais, não apenas os banners retangulares que as pessoas já conhecem. Usamos formatos de publicidade inovadores, como imagens no background, vídeo, com HTML e várias coisas assim. O segundo motivo é a segmentação comportamental ou behavioral targeting, que funciona baseado nas preferências da audiência. Então, a propaganda é veiculada de acordo com a preferência da audiência e não do website. Com isso, uma pessoa que pesquisa e lê muito sobre carros, vai ver propaganda sobre carros. Uma pessoa que tem uma escolaridade mais alta vai ver propaganda voltada para pessoas com escolaridade mais alta. Uma pessoa que curte muito um time de futebol específico, por exemplo, o Ponte Preta ou Corinthians, verá propagandas voltadas para essa sua preferência. A gente consegue detectar as preferências de cada indivíduo e veicular propagandas segmentadas para este indivíduo especificamente. E fazemos isto para 60 milhões de pessoas no Brasil, ou seja, 6 em cada 10 brasileiros conectados.
Como vocês veem o atual mercado de publicidade digital no Brasil? O que nos falta aprender já que a nossa criatividade em mídias tradicionais é mundialmente reconhecida?
LB: O mercado está amadurecendo muito nessa questão do digital. Mas as pessoas ainda têm muita dificuldade para entender as formas de usar as tecnologias. A gente percebe isso até pelo número de pessoas que começam a comparecer aos eventos. No Brasil, 85% da verba publicitária ainda é gasta no offline, e até 2 anos atrás, os eventos sobre publicidade digital eram muito específicos e voltados à comunidades pequenas. Hoje, grande parte dos publicitários e anunciantes estão comparecendo a todos os eventos sobre digital, justamente porque eles entendem que existe um potencial muito grande para crescer dentro deste mercado, e eles não podem ficar de fora. Há uma corrida para o entendimento das ferramentas e das possibilidades que o digital oferece ao mercado publicitário. E a gente percebe um amadurecimento muito rápido e um mercado afoito por entender e utilizar estas novas ferramentas.
É um momento bastante interessante, porque as agências e anunciantes estão se adaptando a esta nova realidade por necessidade e, muitas vezes, por demanda de suas matrizes fora do Brasil, que já utilizam o digital de uma forma mais efetiva. É um momento interessante para empresas como a Boo-Box, que já estão estabelecidas no mercado, porque nós estamos sendo procurados por anunciantes e agências que querem entrar neste novo mundo digital.
Na sua opinião, quais os principais empecilhos para o crescimento do mercado digital no Brasil?
LB: O fato do não entendimento do anunciante e das agências em relação as possibilidades do digital. Ainda existe muita dúvida sobre conceitos básicos de publicidade que já estão mais do que provados. Como a verba de offline ainda é muito relevante, eu entendo que o mercado não tem muito foco e tempo para se dedicar a entender [o digital]. Mas a gente sente que isso vem mudando nos últimos dois anos. O número de pessoas interessadas e a forma como estão falando sobre digital mudou completamente.
MG: Quando a gente começou a Boo-Box, o digital representava 3.8% do investimento total de publicidade no Brasil. Hoje, o digital já representa 15%. Isso demonstra que o mercado está evoluindo rápido, crescendo mais de 30% ao ano, nos últimos anos.
LB: O mercado digital cresce 30% ao ano e o mercado de publicidade brasileiro, como um todo, vem crescendo algo em torno de 5%, 6%. O interessante é que o mercado de publicidade brasileiro é hoje o quinto maior mercado publicitário no mundo. Então, o mercado de publicidade brasileiro está ganhando relevância no mundo, e o digital, dentro do mercado brasileiro, está crescendo mais do que o próprio mercado publicitário.
MG: E agora vem a onda do mobile. A gente acabou de passar pela onda do vídeo no Brasil. Foi basicamente o vídeo que elevou o investimento publicitário em digital para 15%. E agora vai vir a onda do mobile, que aumentará o investimento em digital de 15% para 25% nos próximos dois anos. Vai ser uma coisa bem interessante de se ver.
Qual dica você daria para quem quer começar um novo site ou blog? Dá para ganhar dinheiro com a internet?
MG: Dá, dá sim para ganhar.
LB: A gente paga, toda semana, muito dinheiro à vários blogueiros.
MG: O importante, na verdade, é o profissionalismo. Profissionalismo em todos os sentidos: produção de conteúdo, regularidade, qualidade, ética, tudo. Profissionalismo é mais importante do que querer uma audiência gigante ou querer fazer “clickbaits”, que são armadilhas para [o leitor] ficar clicando e vendo o seu site. Com profissionalismo, o seu trabalho ganha relevância no longo prazo e não no curtíssimo prazo, que é fogo de palha e morre muito rápido. É isto que faz um bom blog sobreviver no longo prazo e ser um formador de opinião. Minha dica principal é, cara, se prepare e seja profissional, mesmo que seja você em casa, escrevendo um post por dia, à noite, depois que você voltou do trabalho. Ainda assim, você tem que ser tão profissional quanto o jornalista que está sendo pago por grupo de mídia gigante.
LB: E a gente percebe isso na prática. Nós vimos vários blogs, que fazem ou fizeram parte da rede da Boo-Box, crescerem até se tornarem pequenos portais e sites bem relevantes no mercado brasileiro. E, basicamente, quem se desenvolveu, foram aqueles que partiram de uma proposta editorial mais profissional desde o início. São esses que a gente vê frutificar. E é importante, também, achar parceiros que possam ajudá-lo a progredir, pois fica difícil fazer isso sozinho. É importante buscar informação de quem já conhece o mercado.
Marco, você cresceu em Gama, cidade-satélite no Distrito Federal, e teve uma infância simples. Você comentou, certa vez, que cresceu em um mundo cheio de peças de computador, pois seus tios eram “muambeiros” e traziam peças de computador do Paraguai. Quais lições daquela época te ajudaram na sua vida de empreendedor de sucesso.
MG: O mais importante foi aprender a lidar com o risco. Tanto respeitar o risco, o perigo, quanto não ser impedido por ele. Acredito que isto foi o que eu trouxe de mais relevante da minha infância em Gama.
Você tem que saber enfrentar o risco. Aqui no Vale isso é muito comum, mas no Brasil é bem mais difícil uma pessoa largar o emprego para abrir uma empresa, por exemplo. Eu acho essencial respeitar o risco e enfrentá-lo ao mesmo tempo; não subestimá-lo, mas também ter coragem para enfrentá-lo. Outra coisa importante é o poder de adaptação. Cada dia acontece uma coisa nova e você tem que usar as peças que tem em mãos para sobrepujar aquela dificuldade. O poder de adaptação é algo que eu aprendi e que vou levar comigo para sempre. Acho que isto é chave para a sobrevivência de qualquer negócio num mundo que muda a todo momento, tão rapidamente.
Qual o seu gadget ou aplicativo preferido?
MG: Ah, o smartphone!
LB: Eu diria que são os aplicativos de mapas, como o Waze. Eu acho que uso [o Waze] até para me locomover dentro de casa. Tipo, qual o caminho mais rápido para a cozinha! É incrível! Eu não dou um passo sem primeiro dar uma olhada no trânsito e ver como e por onde eu posso ir. Mudou minha vida completamente.
MG: O que eu uso mais no meu dia-a-dia são os aplicativos de comunicação, como o Couple, que eu uso especificamente com a minha esposa – que é como o WhatsApp, mas feito para dois. Eu também uso muito o WhatsApp para falar com os meus amigos de Gama, com quem eu não tenho como ter contato pessoal. Tem um outro aplicativo, o Telegram, para manter contato com os amigos relacionados à negócios. Os aplicativos de comunicação são os que eu tenho usado muito e os que mais impactam a minha vida, pois sem estes eu perderia contato com gente importante para mim. Ou acabaria usando apenas o e-mail e a comunicação não seria tão legal ou tão fácil.
Veja agora alguns dos conteúdos que o Marco Gomes e o Luis Bernardes seguem no Flipboard.
~CarolF criou a revista “Disque D Para Digital”
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